Sister...

Tenho quatro irmãos…três irmãos e uma irmã.
Revejo-me um pouco em cada um deles.

A minha irmã tem quase 15 anos a mais do que eu. Desde que deixei a França para vir para cá, vi-a uma única vez, e muito rapidamente. Somos muito diferentes eu e ela parece-me. Ou pelo menos sei que perdemos há muito aquela cumplicidade que tivemos em tempos. Tempos em que eu era uma criança e ela me levava a passear e a brincar no parque. Tempos em que me levava pela mão pelas ruas, me trazia presentes sempre que vinha a casa. Continuo a guardar dois livrinhos muito queridos que ela me trouxe um dia, e num dos quais tinha deixado uma dedicatória com palavras carinhosas e do quanto me adorava. Chamava-me bebé, e eu gostava.

Quando vinha passar o fim-de-semana a casa, eu dormia com ela no sofá cama, ficávamos a ver o filme de terror do sábado à noite no canal 6, e eu tinha medo mas ao mesmo tempo sentia-me segura por estar ali com ela. Acabava sempre por adormecer bem antes de o filme acabar. Mas por muito que a mãe me dissesse para ir para a minha cama, eu queria mesmo era ficar ali com ela.

A verdade é que tenho poucas recordações dela de quando era criança. Tenho alguns flashes de determinados sítios mas sem nenhuma data específica. Lembro-me no entanto de um aniversário meu em que me ofereceu a minha primeira consola de jogos, aquela que eu tanto desejava. Lembro-me de por vezes ir passar o fim-de-semana a casa dela, ela vinha buscar-me no sábado e levava-me de volta no domingo.

Com o tempo mudou muita coisa…teve filhos, os meus sobrinhos, que eu sempre adorei e dos quais fui tomar conta imensas vezes. No entanto já nessa altura se tinha perdido a cumplicidade. Só não consigo dizer se pelo facto de a sua vida ter mudado, por diversos motivos e talvez não os melhores para alguns. Ou se terá sido a altura em que eu fiquei adolescente e pré-adulta, altura em que temos uma certa tendência para achar que sabemos tudo sobre tudo e que não precisamos nem de mimo nem de protecção de ninguém. Talvez tenha também coincidido com a altura em que comecei a ter amizades mais “fortes”, mais “estranhas”…

Muito sinceramente não sei dizer, e por muito que tente analisar, não consigo chegar a nenhuma conclusão.
Por vezes gostaria de poder voltar atrás no tempo e mudar o que quer que tenha causado esse afastamento. Talvez ela tenha tentado e eu não tenha correspondido.

A verdade é que tenho uma irmã mais velha, que vou voltar a ver este ano. E tenho receio. Sinto-me nervosa. Sinto-me nervosa com receio de a ver, de chegar perto dela e sentir que o carinho tenha desaparecido, não o amor por ela mas a vontade de conversar sobre a minha vida, a vontade de partilhar com ela aquilo que sou e aquilo que tenho vivido. A vontade de ser sincera com ela e não de lhe contar e dizer as mesmas coisas que se dizem àquelas pessoas conhecidas mas com as quais não temos nem confiança nem pachorra para entrar em pormenores. Aquelas pessoas a quem dizemos que está tudo bem, simplesmente para encurtar a conversa.

Também tenho receio de sentir a vontade de criar aquele laço de novo mas que ela tenha perdido, como eu perdi em tempos, a vontade de ter aquela cumplicidade.


Tenho uma irmã mais velha, e gosto imenso dela. No entanto não sei o que sinto por ela. Não sei o que me apetece falar com ela, nem os momentos que me apetece passar com ela. E isso dói-me até ao fundo da alma. 


0 comments:

 
Copyright © em busca da felicidade